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Esses números te representam?

Segunda-feira (15), a Universidade divulgou os resultados de um dos formulários que foi divulgado para a comunidade acadêmica. Apesar da alegação de representantes da Administração Central nos Subcomitês de Combate à Covid, de que seriam disponibilizados apenas os dados brutos, o que vimos foi algo muito diferente.
Foram divulgadas imagens tendenciosas, que destacam partes dos dados que parecem justificar o retorno de atividades remotas. Ainda pior foi usá-las para construir um “perfil médio” da estudante que tem todos os recursos e acesso necessários para retomar atividades remotas agora. O que precisamos para pensar políticas de ensino não é de um “perfil majoritário”, mas justamente o contrário, identificar as particularidades e dificuldades de setores que serão excluídos das atividades remotas.
Isso se torna mais absurdo quando o formulário foi respondido por apenas 58% das estudantes de pós-graduação. Se fosse uma amostra aleatória, naturalmente os dados poderiam ser extrapolados para formar esse perfil. Porém, a fatia de 58% de estudantes que responderam o questionário é exatamente aquela que tem maior acesso à internet, mais tempo livre, melhor condição de saúde, etc e conseguiu responder. Quem não tem internet em casa para responder o questionário simplesmente ficou impossibilitado de expressar sua impossibilidade!
Em reunião dos subcomitês, foi alegado que todas as estudantes indígenas e quilombolas puderam responder o questionário. Por conversa com outras estudantes, sabemos que isso é falso, pois muitas alegam não ter respondido e também não ter acesso à internet em suas aldeias ou quilombos. Ou seja, a exclusão mascarada pelo perfil criado pela Administração Central tem raça, tem classe e tem especificidades: são estudantes pobres, negros, indígenas, quilombolas, estudantes pais e mães, estudantes afetados pela Covid-19, que ficaram de fora do “perfil médio” criado!
Assim, convidamos todas e todos a refletir e a responder: Essa divulgação dos dados te representa? Ela representa nossa comunidade universitária? Ela é a melhor forma de embasar nossa discussão sobre os próximos passos das atividades? A APG UFSC considera que não.
Convidamos todas e todos a se reunirem, nas assembleias estudantis por PPG, junto às representações discentes, junto aos coletivos estudantis, em seus grupos de pesquisa para responder publicamente essas perguntas. Colocamos nosso site e redes sociais à disposição para divulgar as posições estudantis sobre que tipo de ensino queremos neste momento e que universidade sonhamos em meio a uma pandemia!
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Mais uma vitória das ações afirmativas: agora em sociologia e ciência política
A nota abaixo foi publicada pela APG UFSC sem referência à demanda de estudantes com deficiência por ações afirmativas, que foram inclusive contempladas na decisão tomada dentro do PPGSP. A APG UFSC reconhece que a pauta dessa categoria não tem sido tratada nos textos e reuniões da entidade. Republicamos, agora, o texto com a inclusão de estudantes com deficiência e nos comprometemos a incluir sempre essa necessária reivindicação junto às políticas de ações afirmativas.
Além disso, a aprovação foi referente a um modelo de ações afirmativas, sem garantia por enquanto da adesão já nos próximos editais, ao contrário da impressão que a primeira versão do texto pode ter indicado.

No momento em que ocorrem no mundo todo protestos antirracistas, a APG-UFSC saúda a adoção de um modelo para a política de ações afirmativas no processo de seleção e de alocação de bolsas no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política (PPGSP) da UFSC. Esperamos que ela seja implementada assim que possível nos próximos editais.
A decisão, tomada em reunião do colegiado do Programa por unanimidade, faz dele apenas o décimo-segundo na universidade a implementar ações afirmativas. Isto ainda é muito pouco, pois representa somente 14% dos 87 programas da instituição.
Tanto cada programa, localmente, quanto a Administração Central da UFSC deveriam ouvir os brados que ecoam no planeta e reconhecer a omissão histórica frente ao povo negro, assim como a estudantes com deficiência, indígenas, quilombolas, imigrantes, trans e travestis. Um projeto para incluir Ações Afirmativas em todos os programas está em discussão na Câmara de Pós-Graduação e precisa avançar, mas enquanto isso o debate também pode ser levado aos colegiados de todos os programas que ainda não se moveram. Assim como no caso do PPGSP, assembleias discentes podem embasar a atuação de representantes discentes nestes espaços.
Não se promove antirracismo apenas com palavras ou posturas intelectuais, mas com ações concretas. A APG-UFSC se coloca à disposição para ajudar estudantes na luta pelas ações afirmativas nos demais programas!
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NSC e Notícias do Dia promovem uma campanha de difamação contra a UFSC

Na quarta (03), um membro da APG recebeu pessoalmente mensagens da equipe do jornal Notícias do Dia (ND) solicitando a participação da entidade em uma matéria que trataria da “paralisação total” da UFSC. O contato foi feito buscando o depoimento de estudantes que estão “preocupados com o andar da carruagem”, “a falta de ensino online” e com “medo de perder o ano”. Ou seja, não procuravam saber qual era a opinião das(os) estudantes, buscavam somente aquelas que fortalecessem a narrativa sobre a universidade que já haviam decidido propagar.
Imediatamente respondemos que a universidade não está em paralisação total e que poderíamos falar sobre as importantes ações que a Universidade tem mantido em funcionamento, para além do ensino. Repassamos a síntese das posições que temos defendido nos Comitês da UFSC, mas ela não foi citada nas matérias do veículo. O ND não apenas não retratou a posição das entidades representativas, como abriu espaço em coluna para a opinião individual de um estudante ultra-conservador segundo o qual as(os) professoras(es) querem “férias fora de época”.
Argumentos como esse não são somente desrespeitosos com a comunidade universitária, mas com o povo catarinense em geral, pois, além de falaciosos, rebaixam uma discussão séria a um jogo medíocre e sensacionalista que só atrapalha a população, que quer e merece ter informações confiáveis para participar de forma adequada no debate público.
Ressaltamos aqui que a defesa de um debate democrático sobre as possibilidades das aulas remotas, uma análise adequada da situação atual das categorias estudantis, e a ponderação de todo o impacto negativo de exclusão e precarização da educação no modelo remoto emergencial, são reivindicações da APG UFSC, do DCE UFSC e de dezenas de Centros Acadêmicos, conforme divulgado na nota da campanha “Nenhum estudante fica para trás”.
A narrativa construída pelo ND, reforçada também por matérias da NSC (afiliada à Rede Globo), não representa o conjunto das(os) estudantes, mas representa muito bem o empresariado. Por exemplo, no mesmo dia do contato com a APG (03), saiu no site do ND a matéria “Entidades de classe voltam a criticar a paralisação das atividades na UFSC“, que só é assinada por “Redação ND”. A “classe” a que se refere o título da matéria só pode ser a oligarquia empresarial de Santa Catarina. As “entidades” – que nada mais são do que empresas – que se organizam sob o nome de “Floripa Sustentável” compram espaço no debate público para defender seus lucros e seus projetos, vendendo seus interesses como a opinião de todos, forjando um falso consenso.
Não é a primeira nem a segunda matéria que ataca a Universidade e suas trabalhadoras veiculada na mídia empresarial catarinense durante a pandemia.
Nos últimos dois meses, a NSC e o ND disseram que “professores da pós-graduação da UFSC querem aulas a distância, mas reitoria não permite“; que os “servidores ganham auxílios (…) pra ficar em casa“; que a “universidade pública optou em ser mais um centro de cidadania do que um centro de excelência“; que a universidade está ausente; que a universidade “não traça planos durante a pandemia“; e ainda inventou o fake news de que as aulas retornariam na semana passada, sem nenhuma retratação.
Em várias delas, predominam pontos de vista do empresariado, sem relação direta com a Universidade. São poucas as matérias que abriram espaço para o contraditório e diversas delas chegaram a usar de mentiras e calúnias, como no caso do suposto retorno às aulas decidido para a semana passada ou dos auxílios que servidores estariam recebendo sem trabalhar. Uma verdadeira campanha contra a universidade pública, que atinge de forma similar com a Udesc.
Por isso, saudamos as iniciativas do DCE, Sintufsc e Apufsc em denunciar e criticar a postura que a mídia empresarial vem tomando em relação à UFSC. Apontamos, ainda, que desmentir e enfrentar essas narrativas é também uma tarefa da prória instituição, que precisa dialogar com toda a sociedade para mostrar que sua função social vai muito além das atividades de ensino.
Esses episódios só reforçam nossa compreensão e convicção de que a grande mídia tem seu lado e seu objetivo bem nítidos. Estes sempre estarão alinhados a quem lucra, aos patrões e elites catarinenses. Para esses setores, os serviços públicos serão sempre um problema, pois o que querem é privatizar ou de outro modo apropriar-se do patrimônio do povo. Precisamos, mais do que nunca, fomentar e disseminar nossos próprios veículos de mídia, com o ponto de vista da classe trabalhadora e do conjunto dos oprimidos.
Orientamos, também, que a comunidade acadêmica e a população em geral fiquem atentas às posições das entidades representativas, que divulgam seus posicionamentos através de suas páginas e redes sociais.
SERVIÇO PÚBLICO NÃO SE VENDE, SE DEFENDE!
VIVA AS MÍDIAS POPULARES!
Associação de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos da UFSC
08 de junho de 2020
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LIVES APGs SUL

As Associações de Pós-Graduação da região Sul (APG – UFSM, Associação de Pós-Graduandos da UEPG, Apg-UFPR, APG Ufcspa, Associação de Pós- Graduandos – UEM, APG – UFRGS, APG UFSC) organizaram conjuntamente um calendário de lives para estabelecer uma rede de fortalecimento e de organização dos(as) pós-graduandos(as) da região Sul.
As quatro lives propostas têm como intuito abordar as questões e dúvidas centrais que os(as) pós-graduandos(as) estão vivenciando no período da pandemia do Covid-19 no Brasil. Convidamos todos(as) os(as) pós-graduandos(as) para participarem das lives e dialogarem conosco sobre a situação da pós-graduação brasileira.
CONTAMOS COM A PRESENÇA DE VOCÊS!
EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA, DE QUALIDADE E SOCIALMENTE REFERENCIADA!
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Novidades sobre prorrogação, qualificação e proficiência

Por meio do ofício 301/2020, a Capes esclarece que “As bolsas em vigor durante o período de restrições relacionado à pandemia da Covid-19 poderão ter sua vigência prorrogada […] a qualquer tempo, desde que presentes as circunstâncias previstas no art. 4o da Portaria no 55, de 29 de abril de 2020, e que não tenham sido finalizadas”.
Já por meio do Ofício Circular Nº 25/2020, a PROPG prorroga “por noventa dias, contados a partir dos respectivos prazos finais, para realização dos exames de qualificação (mestrado e doutorado) e para apresentação do comprovante de proficiência em língua estrangeira“. Ressalta ainda que exames de qualificação poderão ser realizados por meio de videoconferências online.
A APG trabalha para que as/os pós-graduandas/os conheçam seus direitos. Em caso de descumprimento, entrem em contato conosco.
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Verdade ou consequência: o que a APG defende frente à pandemia?

Desde nossa participação na sessão de Câmara de Pós-Graduação do dia 27, temos recebido diversos questionamentos à posição da APG que não condizem com aquilo que defendemos e levamos como propostas na reunião. Infelizmente, as sessões da CPG não são transmitidas como as sessões do Conselho Universitário, o que permitiria que o conjunto da comunidade universitária acompanhasse as posições docentes e discentes apresentadas na ocasião. Sendo assim, trazemos aqui algumas respostas que sintetizam as posições que defendemos neste momento.
A APG defende o cancelamento do semestre?
Não, pois aparentemente essa medida teria consequências legais ruins para os/as estudantes, podendo afetar “colações de grau, pagamento de bolsas, apresentações de TCCs” já realizadas [1]. No entanto, entendemos a demanda por respostas em tempo oportuno, que permitam a estudantes e docentes se organizarem, planejarem suas vidas, para qualquer decisão que for tomada. Defendemos que não haja qualquer retorno sem aviso com prazo de antecedência razoável. Por isso, temos considerado que, antes de julho, no mínimo, não deve haver retorno e que toda a comunidade seja informada com prazos maiores [2].
A APG é contra EAD?
Não. A discussão que ocorreu na sessão da CPG não discutia a modalidade EAD, que tem regulamentação própria, mas a abertura para ensino remoto emergencial na pós-graduação da UFSC durante a pandemia.
O que a APG defendeu na reunião da Câmara de Pós-Graduação?
Propusemos pequenas alterações e defendemos um parecer que permitiria atividades remotas, mas desde que satisfeitas certas condições. Diante do terrível cenário pandêmico, que deve continuar ainda por vários meses, defendemos decisões de forma horizontal, junto à totalidade da comunidade acadêmica. Defendemos, assim, que seja realizado um levantamento amplo para discutir quaisquer estratégias de retorno de maneira responsável, prudente e inclusiva para todas e todos.
Não se trata de “ensino remoto” x “fazer nada”, mas de opor um ensino remoto às cegas e despreparado, que potencialmente aprofunda desigualdades e prejudica a vida de várias/os estudantes, e um que seja planejado de maneira respeitosa e cuidadosa. Uma vez que a pandemia ainda estará conosco por um longo tempo, não devemos nos pautar pela pressa, mas sim pelo cuidado com todos os sujeitos que constroem nossa universidade.
A decisão da CPG foi democrática?
Consideramos que não [3]. Apesar de já termos visto outras propostas anteriormente, a minuta tal como foi aprovada foi apresentada pela primeira vez na própria reunião, que ainda teve a pauta realizada em caráter de urgência. Por isso, mesmo pedindo vistas, tivemos que apresentar nosso parecer na mesma reunião. Os professores que construíram o parecer substituto já tinham os votos contados para aprovar sua versão e propuseram que ela fosse votada antes mesmo de apresentarmos nossas sugestões. O resultado disso é que a CPG aprovou um documento passando por cima das discussões em andamento no Comitê de Combate à Covid da UFSC.
A APG falou que a maioria das estudantes da pós-graduação são contrárias ao ensino remoto emergencial?
Não. Embora alguns programas tenham levantado internamente essa posição estudantil através de questionários, a maioria da pós-graduação ainda não teve local para expressar sua opinião. Acreditamos que isso deve acontecer, mas não antes que seja feito um bom levantamento das condições concretas de participação de nossa categoria em atividades remotas.
A APG tem um formulário para ouvir a posição das estudantes?
Sobre retorno de atividades remotas, ainda não. Fizemos já em março um levantamento das condições de permanência, motivados principalmente pelo impacto do fechamento do RU e dos cortes de bolsas Capes em nossas vidas. Com ele, demonstramos mais uma vez (com números) que é urgente termos políticas de permanência para a pós-graduação [4].
O que a APG propõe que a UFSC faça agora?
Sobre a decisão da CPG, propusemos que a minuta seja debatida no Conselho Universitário antes de ser publicada. No CUn do dia 29/05, o Reitor Ubaldo se comprometeu com esse pedido. Fora isso, temos insistido pela realização de um bom mapeamento das nossas condições estudantis em meio a essa pandemia para que sejam identificadas as limitações e problemas de possíveis atividades remotas, que precisam ser resolvidas antes de qualquer decisão final. Além disso, outras demandas estudantis têm sido levadas aos Conselhos e Comitês, como apresentamos aqui [2].
O que as estudantes podem fazer frente a essa situação?
É importante que a categoria da pós-graduação esteja cada vez mais organizada, seja junto à APG ou através das assembleias estudantis de cada programa, para acompanhar as decisões da Universidade, formular suas propostas e fazer valer os seus direitos. Em relação ao ensino remoto, especificamente, é fundamental que a gente consiga acompanhar e questionar em cada Colegiado tentativas de adesão de forma atropelada.
[1] https://twitter.com/UFSC/status/1265643706205560832
[2] https://apg.ufsc.br/2020/05/29/sobre-as-demandas-da-pos-graduacao-no-contexto-da-pandemia/
[3] https://apg.ufsc.br/2020/05/27/cpg-se-aproveita-da-pandemia-para-passar-a-boiada-do-ead/
[4] https://apg.ufsc.br/2020/04/01/a-situacao-de-estudantes-da-pos-ufsc-durante-o-isolamento-social/
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Sobre as demandas da pós-graduação no contexto da pandemia
Publicamos abaixo a síntese apresentada como posição da APG UFSC na reunião do Comitê Assessor da UFSC no dia 27 de maio de 2020. São diretrizes que temos pautado no Conselho Universitário, Câmara de Pós-Graduação e demais comissões surgidas no enfrentamento à pandemia. Todos os temas seguem em discussão e aprofundamento à medida que avançam os debates na gestão, no diálogo com o conjunto da categoria e com as informações levantadas pelos formulários, notícias sanitárias, etc.

Em 25 de maio de 2020, o Brasil alcançava o número de 370.060 casos confirmados de pessoas com Covid-19, registrando 23.102 mortes. É importante frisar este aspecto: não são apenas números, tratam-se de pessoas. Ainda é preciso levar em conta os casos de subnotificações, o que torna o cenário real muito pior do que aquele que os dados apresentam. Dessa forma, mesmo em um contexto de extrema incerteza – mediante à uma política desastrosa que até pouco tempo subestimava os efeitos da pandemia no país por parte do governo federal – é possível afirmar: nos dias que seguem o número de pessoas infectadas e de mortes só aumentará, provavelmente ainda mais rápido do que nas últimas semanas.
É em meio a esse contexto que buscamos sintetizar, aqui, algumas linhas do que a Associação de Pós-Graduandos defende para a UFSC neste momento. São as propostas que temos levado e debatido nos Comitês de Crise da UFSC, nas reuniões do Conselho Universitário, Conselho de Pós-Graduação e demais instâncias criadas nos últimos tempos.
1. Não há como pensar em retorno presencial ainda
Em meio a esse quadro ascendente de contaminações no Brasil surge a discussão de retomada das atividades de ensino por parte das universidades públicas. Bastaria uma breve análise da curva de contágio, no caso brasileiro, para aferir que o retorno presencial às aulas seria uma medida, no mínimo, irresponsável.
Além disso, não há consenso científico de que estratégias supostamente “seguras” – como as que envolvem revezamentos ou distanciamento dentro das salas de aula – realmente funcionem para deter os riscos de aumentar a contaminação. No mínimo, elas exigiriam muito mais espaço física e tempo do que a UFSC tem à disposição, e portanto são também pouco realistas.
Porém, não só isso. Ao contrário da pressão chantagiosa que grupos vêm impondo para o retorno às atividades de ensino a qualquer custo, por meio da imprensa, sobretudo a regional, é este o momento da universidade pública reafirmar seu papel responsável e imprescindível para a sociedade brasileira.
Em resumo, não retomar as atividades presenciais é, antes de qualquer coisa, uma medida de prevenção ao contágio.
2. A UFSC deve reivindicar e demonstrar seu papel social para além das atividades de ensino
Além disso, é preciso lembrar que a universidade pública no Brasil exerce inúmeros papéis onde as atividades de ensino são, ainda que importantes, apenas uma de suas funções que variam entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Não se pode comprar esse discurso falacioso de que a universidade está parada, precisamente, pois, ele se trata de uma mentira. Para citar apenas alguns exemplos: A UFSC, através do Núcleo de Serviço Social, promove o mapeamento de ações solidárias durante a pandemia¹; desenvolve um protótipo de ventilador pulmonar de baixo custo²; mantém o Hospital Universitário que tem um importante papel na batalha contra o coronavírus; pesquisadores da UFSC realizam diariamente pesquisas e atualização de dados sobre o fenômeno de contágio, estabelecem um permanente diálogo com outras instituições e redes internacionais de pesquisadores para entender o cenário mundial, entre outras atividades fundamentais para este momento.
3. Não podemos tomar decisões sobre o calendário com atropelo; estudantes e docentes precisam planejar sua vida e seu trabalho com antecedência
Neste sentido é que não há motivos para que se tomem medidas irresponsáveis e que atropelem um amplo debate que deve ser feito com todas as categorias que compõem a comunidade universitária. Mesmo, e principalmente, se a opção que vem sendo colocada é o ensino remoto. E sobre esta questão partimos de algumas premissas: a) As práticas mediadas por tecnologias são ferramentas interessantes, mas que não podem substituir o ensino presencial, simplesmente, pois, este não é passível de substituição; b) com isso, não há maneira de implementação de práticas remotas de ensino sem perda de qualidade. E isto se agrava quanto tão mais apressada for esta implementação.
Assim, a APG-UFSC defende a garantia de um longo prazo para que sejam discutidos todos os aspectos que envolvem algum possível retorno das atividades de ensino. O ensino remoto exige um grande planejamento da categoria docente para reformular suas disciplinas; exige também, um amplo mapeamento e consulta das condições materiais e psicológicas dos/das estudantes para poder projetar as atividades sem aumentar o fosso da desigualdade que já existe entre os/as discentes. É preciso, ainda, avaliar a estrutura e o suporte material e humano que a universidade dispõe para atividades deste tipo. Sem um mapeamento competente sobre as demandas dos/das estudantes não é possível planejar a retomada de algum tipo de atividade de ensino.
Nesse sentido, é importante estabelecer que, pelo menos, o período previsto para o semestre 2020/1 já foi comprometido. Para possibilitar o planejamento das pessoas, seria importante desde já propor alguma data mais distante antes da qual não haverá nenhum tipo de retorno – sugerimos pelo menos julho.
4. O ensino remoto emergencial precariza a educação e também tende a aprofundar desigualdades de acesso, participação e permanência na pós
Na discussão sobre ensino remoto, antes de tudo, precisamos entender que uma adoção de ensino remoto emergencial não é EAD e só pode ser visto como uma alternativa de exceção. Somos contrários à abertura ao modelo da EAD na pós-graduação strictu sensu.
Ao invés de debater o retorno às aulas presenciais, entendemos que é necessário discutirmos as limitações e impactos decorrentes de uma possível adesão emergencial ao ensino remoto na pós-graduação da UFSC. A primeira, mais óbvia, é de acesso. Muitas e muitos estudantes não possuem conexão de internet de qualidade com computador próprio e individual. Isso ocorre mesmo no caso de docentes! Além disso, é enorme a parcela de nós que teve a saúde mental afetada por este momento. Muitas estão envolvidas com o cuidado de idosos ou pessoas em situação de risco; muitas outras enfrentam a instabilidade financeira decorrente de demissões ou da impossibilidade de suas atividades que eram fonte de renda. A tendência é que as pessoas mais afetadas por todas as situações acima sejam as estudantes mulheres, negras e negros, indígenas e estudantes pobres. Ou seja, ignorar essas dificuldades implica aprofundar a desigualdade e a injustiça frente a esses setores.
Temos defendido junto à PROPG e dentro de cada PPG que os formulários de avaliação incluam todos esses itens para possibilitar um mapeamento real das nossas condições neste momento.
Para além das possibilidades de acesso, entendemos que é necessário discutirmos que educação queremos e que educação podemos fazer neste momento. Será que frente a uma pandemia que cresce exponencialmente em nosso país nossa responsabilidade e função social impõe o mesmo currículo e atividades de ensino que anteriormente? Sem enfrentar esse debate, estaremos apenas propondo um retorno a uma normalidade que já não existe mais.
5. Precisamos estabelecer critérios e diretrizes comuns para que cada Programa de Pós-Graduação possa avaliar e tomar decisões
No que se trata da pós-graduação, é preciso refletir sobre as inúmeras implicações que temos à pesquisa durante o período de pandemia: há pesquisas que precisaram ser abruptamente interrompidas, ou sequer iniciadas, pois necessitam de trabalho de campo ou acesso aos laboratórios; há pesquisadores e pesquisadoras que não possuem internet em casa para fazer pesquisa bibliográfica e também, devido às necessárias restrições sanitárias, não podem acessar bibliotecas; há pesquisadores e pesquisadoras que estando em casa necessitam destinar seu tempo aos cuidados com familiares – alguns apresentando problemas de saúde, inclusive agravados pela pandemia – além das mães e pais com filhos em casa que não possuem condições mínimas para o tão mencionado ‘home office’.
Neste sentido, as categorias envolvidas com a pós-graduação necessitam estabelecer critérios comuns a serem seguidos por todos os programas de pós-graduação. É preciso levar em conta as especificidades dos programas, mas a partir de critérios estabelecidos em conjunto com a comunidade acadêmica e a PROPG. A falta de critérios centrais pode ocasionar toda a sorte de problemas que vão desde um desencontro de calendários até o aumento da pressão por parte dos programas sobre os/as estudantes.
6. Precisamos de acréscimos nos prazos acadêmicos relativos a todo o período sem atividade presencial
Pelos mesmos motivos levantados no ponto acima, temos que flexibilizar também os prazos acadêmicos. Datas para análise de projeto, qualificação e defesa são diretamente afetadas pela impossibilidade das pesquisas de campo, da consulta às bibliotecas, da presença nos laboratórios e, também, pela própria realização das disciplinas. É necessário que nenhuma e nenhum estudante seja constrangido ou assediado por adiar seus prazos neste momento, dentro dos três meses já estabelecidos na maior parte dos casos, mas também avaliarmos a necessidade de adiar prazos novamente levando em conta a evolução do cenário da pandemia.
Além disso, é preciso que a UFSC se posicione fortemente pela prorrogação do período de vigência das bolsas de pós-graduação. Esta não é apenas uma postura genérica, mas exige algumas atuações práticas e urgentes: a FAPESC, por exemplo, é uma das poucas agências de fomento estadual que ainda não anunciou uma política de prorrogação, e entendemos que a UFSC deve pressioná-la nesse sentido. É necessário também exigir que a Capes revise sua atual política que prorroga o período, mas tranca as “cotas”. Isto teve como efeito a negação de pedidos legítimos de prorrogação por parte dos programas, de modo que internamente a UFSC também deve lidar melhor com esta política.
7. A pós-graduação precisa, agora ainda mais do que antes, de políticas de permanência
Por fim, é importante apontar que a pandemia tornou mais aguda uma reivindicação que já é histórica entre a pós-graduação, que diz respeito às políticas de permanência que nós não temos na UFSC.
Realizamos entre nossa categoria um formulário de mapeamento ainda no final de março com mais de 1500 respostas³. Naquele momento, tivemos cerca de 16% de estudantes que apontaram que precisavam do RU para se alimentar, além de mais 35% de estudantes dizendo que foram afetados, mas conseguiam se virar sem ele. Além de centenas que falaram em ajuda para sua alimentação, recebemos ainda pedidos de ajuda com as moradias e aluguéis à época. O valor da bolsa é cada vez mais insuficiente para garantir uma vida digna em Florianópolis, fora a redução gradual do número de bolsas e o aumento das estudantes que compartilham os estudos com outros trabalhos.
Entendemos que a pós-graduação precisa de ajuda para permanência já, em especial frente à pandemia, sem a qual continuaremos perdendo estudantes de pós e elitizando a categoria.
Associação de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos da UFSC
26 de maio de 2020
¹ https://noticias.ufsc.br/2020/05/nucleo-do-servico-social-da-ufsc-promove-mapeamento-de-acoes-solidarias-na-pandemia/
² https://noticias.ufsc.br/2020/05/prototipo-de-ventilador-pulmonar-criado-na-ufsc-e-aprovado-em-testes-no-hospital-sirio-libanes/
³ https://apg.ufsc.br/2020/04/01/a-situacao-de-estudantes-da-pos-ufsc-durante-o-isolamento-social/
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CPG se aproveita da pandemia para “passar a boiada” do EAD

Em sessão remota realizada no dia 27 de maio de 2020, a Câmara de Pós-graduação da UFSC aprovou minuta que autoriza a realização de atividades de ensino não presenciais.
O primeiro ponto que podemos destacar é que a aprovação da minuta em questão ignora os debates realizados em outros espaços da Universidade e coloca o termo “ensino remoto” de forma leviana. No subcomitê acadêmico, vinculado ao Comitê de Combate à Covid da UFSC, a partir do debate coletivo realizado em várias reuniões, foi aceita a contribuição do Centro de Ciências da Educação (CED) de conceituar as propostas de atividades remotas não como ensino, mas como “atividades pedagógicas não presenciais”. Isso à primeira vista pode parecer um preciosismo, mas não é! Este ponto se torna fundamental para que neste momento pandêmico, de situação emergencial, seja firmada a interpretação dos educadores e dos educandos envolvidos de que o que iremos realizar, enquanto Universidade, são atividades emergenciais pedagógicas em tempos de pandemia. Assim, não deixamos aberta a porta do oportunismo de transformar o ensino presencial em “ensino remoto”, pois uma modalidade não pode, em contexto nenhum, substituir a outra. São modalidades distintas e com percursos formativos distintos.
Essa foi apenas a terceira reunião em meio à pandemia que debateu o tema e avaliamos que esse prazo não foi suficiente, dada a condição desta pandemia inédita para nossa geração e de que estamos muito distantes do que possa ser considerado “normalidade”. Na verdade, ainda não discutimos nem o que será a tal “nova normalidade”.
Outro problema é que ainda não fomos capazes de realizar um levantamento preciso sobre a situação de todas e todos os sujeitos que constroem a vida acadêmica na universidade, ou seja, os servidores TAEs, os/as estudantes e o corpo docente. Isso impossibilita qualquer decisão que seja de fato e de direito democrática, inclusiva e participativa. Nos perguntamos quais são os interesses por trás da pressa em aprovar tal minuta, sem respeitar o tempo da ciência, das pessoas envolvidas no processo, entender a realidade e propor soluções. A pressa do produtivismo, da volta das atividades, sejam elas econômicas ou pedagógicas, não pode ser um termômetro para a real produção de uma ciência que leve em consideração o ser humano, as questões humanas e a vida. Afinal, são pessoas de carne e osso, com sentimentos, as quais constroem a Universidade, a nossa sociedade, não números, muito menos coisas.
Nossa posição, declarada desde o início da reunião, era pela não–aprovação de nenhuma resolução que não pudesse ser mais e melhor debatida pela comunidade acadêmica e respaldada pela realidade – por meio de um levantamento unificado que investigue os aspectos objetivos e subjetivos de todas e todos os envolvidos no processo de ensino.
Inicialmente, houve a aprovação da solicitação, feita pelo professor Roberto Pacheco, que colocava como prioridade o item 6 da pauta (item referente à questão do ensino) e o colocava em regime de urgência. Nós nos posicionamos contra essa alteração da pauta e solicitamos que fosse realizada uma votação separada para a questão do regime de urgência, pois não havia possibilidade de discutir a minuta proposta para o retorno das atividades (item 6) sem a discussão do parecer sobre o questionário e a relidade dos discentes e docentes da pós-graduação da UFSC. A consequência da aprovação do regime de urgência foi que, ao solicitarmos vistas, o prazo que nos foi dado para fornecer um parecer foi até às 13hs do mesmo dia.
Fomos surpreendidos positivamente pelos argumentos do relator do processo original e muito negativamente pelo aparecimento “repentino” de um parecer paralelo – chamá-lo de substitutivo, da forma atropelada como foi encaminhado, seria injusto – feito por um grupo de professores liderados na reunião pelo professor Orides Mezzaroba (PPGPD), que estavam totalmente indispostos a encarar o debate democrático que seria necessário. Por muitas vezes interromperam a fala da pró-reitora Cristiane tentando conduzir a reunião, por exemplo. Atuaram apoiados em argumentos técnicos – com regimentos e normas de baixo do braço – os quais, por pressupor a norma apartada da realidade, demonstram total insensibilidade ou falta de conhecimentos acerca da vida dos estudantes de pós-graduação.
Os professores chegaram a tentar antecipar a votação para antes de entregarmos nosso parecer, sob o argumento de que “claramente já havia uma maioria formada e seria mera formalidade esperar o parecer da APG pra votar”. Além disso, sinalizaram um total desprezo pelo trabalho dos estudantes envolvidos dizendo que aquele espaço “não era o movimento estudantil” e que deveríamos aceitar a decisão da maioria já estabelecida.
Na prática, menosprezaram também as discussões e debates realizados nos espaços dos subcomitês, sejam eles acadêmico, científico, central, etc, secundarizando o trabalho realizado por colegas das diferentes categorias da Universidade em um árduo trabalho coletivo de debate e discussões. Valeu a “carteirada” do professorado distante da situação real da comunidade acadêmica e da própria sociedade em que vive. Se não for pelo debate transparente, respeitoso, equilibrado e ampliado, como vamos chegar em uma decisão que não abandone ninguém pelo caminho?
Em outro momento, em reunião passada, a opinião dos estudantes foi chamada de “preconceito” contra a Câmara de Pós-Graduação. Este é outro ponto que podemos destacar, pois um debate democrático de fato não pode ter decisões a priori e muito menos desprezar dessa forma a posição dos estudantes, que apesar da pouca representatividade, ainda buscam lutar por melhores condições de estudo e trabalho.
De nossa parte, não éramos favoráveis à tal minuta, mesmo com as inclusões propostas pelo parecerista inicial, que certamente dariam um ar muito mais honesto e baseado em realidade para a minuta. Apesar dessa nossa posição, fizemos nosso parecer de vistas no sentido de dialogar com o parecer inicial (legítimo) o qual elencava algumas condições que também consideramos mínimas e necessárias para podermos almejar a realização de qualquer tipo de atividade remota.
Em sentido oposto ao colocado pela nossa posição, e também ao expressado pela própria pró-reitora ao início da reunião, quando abordou a discussão necessária a ser feita posteriormente à aprovação, o grupo de professores interessados em fazer “passar a boiada” manteve sua postura autoritária e arrogante, aprovando por fim sua proposta antes de termos resultados dos formulários ou um debate com a comunidade universitária.
Restam-nos algumas perguntas pertinentes: se nem uma pandemia, de uma doença que é ainda pouco conhecida, em meio ao caos econômico, social e político que vivemos, é capaz de sensibilizar e tentar trazer mais para perto da realidade de nós mortais esses seres superiores, o que será capaz? Imaginem o que já não têm planejado para implementar em seus programas e contra seus estudantes? Reiteramos aqui que a APG segue em luta contra o autoritarismo praticado por certos grupos de professores e está a disposição para eventuais episódios de abusos e assédio moral que venham a sofrer.
O parecer foi aprovado por votos de Rui Daniel Prediger (CCB), Leila Hayashi (CCA), Ricardo Moraes (CTS-Araranguá), Eduardo Luiz Gasnhar Moreira (CCB), Glauber Wagner (CCB), Ariane Zamoner Pacheco de Souza (CCB), Werner Kraus Jr. (CTC), Enzo Morosini Frazzon (CTC), Jonny Silva (CTC), Larissa Carli (CTE-Blumenau), Alexandre Siminski (Curitibanos), Kelly Samara Silva (CDS), Cíntia Soares (CTC), Orides Mezzaroba (CCJ), Marcelo Arend (CSE), Katia Lin (CCS), Patricia Faria Di Pietro (CCS), Elena Riet Correa Rivero (CCS), Roberto Pacheco (CTC), Ivan H. Bechtold (CFM) e Elenara Lemos Senna (CCS). No entanto, a luta segue. É importante que a categoria da pós-graduação, que é, em grande parte, contrária à medida, esteja cada vez mais organizada, seja junto à APG ou através das assembleias estudantis de cada programa, para que consiga acompanhar e questionar em cada Colegiado a adesão ao ensino remoto de tal forma atropelada – tarefa na qual podem contar com a APG UFSC.
Associação de Pós-Graduandos da UFSC
27 de maio de 2020
ERRATA: A primeira versão deste texto alegava equivocadamente que o professor Orides Mezzaroba é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD). O professor é vinculado ao Programa de Pós-Graduação Profissional em Direito (PPGPD).
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“Live” debate proposta da Reitoria de retorno ao trabalho presencial na UFSC
Segue abaixo divulgação do Sintufsc.
A segunda edição do Sintufsc Ao Vivo traz o tema “É hora do retorno? A UFSC no contexto da pandemia” e acontece na próxima quarta-feira (27/05), a partir das 18h30, simultaneamente no canal “TV Sintufsc” do YouTube e na página do sindicato no Facebook.
A “live” terá como convidado especial Oscar Bruna-Romero que é professor do Departamento de Microbiologia da UFSC e especialista em doenças infecciosas e vacinas
O debate será mediado pela diretora do Sintufsc, Giana Laikovski, e também vai contar com representantes da Apufsc, do DCE-UFSC e da APG-UFSC que vão repercutir a criação do Painel do Grupo de Risco e avaliar a proposta da reitoria de retomar o trabalho presencial na universidade.
Todas e todos podem participar do debate enviando perguntas e opiniões, basta seguir a página do sindicato no Facebook e/ou se inscrever no canal “TV Sintufsc” no Youtube. Participe, juntos somos mais fortes!
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APG-UFSC defende a prorrogação de prazos de qualificações/defesas e períodos de vigência das bolsas de pós-graduação!

Os desafios colocados neste período em que uma pandemia assola o Brasil e o mundo revelam a importância que o investimento público em pesquisa tem para a humanidade, não apenas nos assuntos relacionados diretamente ao vírus, mas em todas as áreas de produção de conhecimento. Mesmo com esta constatação, ao invés do fortalecimento da pós-graduação em nosso país, o que podemos observar é uma série de medidas que precarizam ainda mais o trabalho de milhares de pós-graduandos e pós-graduandas que se encontram hoje jogados à deriva, com pouca ou nenhuma condição de trabalho e sem perspectiva quanto à vigência de suas bolsas. Entendemos por bolsas os salários dos pesquisadores, que possuem formação técnica para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no âmbito nacional e internacional.
Os ataques às bolsas e à pós-graduação brasileira
A pós-graduação sofreu cortes sem precedentes em 2020 como consequência direta da adoção, pela CAPES, de um novo modelo de distribuição de bolsas. Isto foi feito através das Portarias Nº 18-21, e acelerado sub-repticiamente com a Portaria Nº 34. A CAPES se viu obrigada a recuar pela pressão estudantil e ações do Ministério Público Federal, e assim em 1º de abril publicou ofício circular alegando que o corte de 6000 bolsas fora fruto de um erro no Sistema de Cadastro de Bolsas e Auxílios. Cabe a nós avaliar o impacto deste recuo.
É bastante difícil entender como um erro em tal sistema teria passado despercebido, sendo este erro extremamente grosseiro, irresponsável e grave. De qualquer maneira, o fato é que estas 6000 bolsas parecem ter retornado aos PPGs, ao menos de acordo com a transparência nos números de bolsas que a CAPES efetuou sob ameaça do MPF. O mais importante, entretanto, é que os cortes permanecem em grande medida. Numerosos são os relatos de PPGs em que apenas uma parte dos cortes foi revertida, ou mesmo em casos nos quais não houve qualquer reversão. O caso da UNIFESP, em que nenhuma das bolsas cortadas retornou, é emblemático neste sentido.
Ainda mais importante que estes impactos imediatos, porém, é a situação geral da CAPES no cenário de pandemia. Em primeiro lugar, o recuo dos cortes, além de ser apenas parcial em termos do número de bolsas, não configura exatamente uma reversão, já que as cotas de bolsas que retornaram são da modalidade de empréstimo, ou seja, são bolsas que poderão ser retiradas dos PPGs – conforme os pós-graduandos atuais forem se formando – caso estes não atendam os quase irrealizáveis critérios instituídos pelo novo modelo de distribuição. Em segundo lugar, é importante notar que as Portarias Nº 18-21 e Nº 34 continuam vigentes (com exceção da Portaria Nº 19, revogada pela Portaria Nº 21). Por fim, o cenário do MEC e da CAPES, sob administração de Abraham Weintraub e Benedito Aguiar, cujas mãos se lavam no sangue junto às de Bolsonaro e companhia, não é nada animador, sendo notável a progressiva deterioração da universidade pública e do sistema nacional de pesquisa. Este sistema também passa pelo MCTIC, que recentemente instituiu nova política de prioridades através da Portaria Nº 1122 do MCTIC. Na prática, esta política configura a exclusão das Humanidades e de diversas outras áreas que não recaem sob os poucos eixos tecnológicos priorizados, sem que por isso haja qualquer evidência de melhoria nos investimentos e nas condições gerais de pesquisa para as áreas ditas prioritárias, as quais também vêm há tempos penando os cortes. Os cortes já impactam, hoje, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), e em breve impactarão todo o CNPq, bem como restante dos programas do MCTIC.
As Portarias Nº 18-21 mantêm como critério principal a nota da Avaliação Quadrienal da CAPES, a qual é historicamente criticada por seguir uma lógica meritocrática, produtivista e que desconsidera as demandas regionais, prejudicando em especial os PPGs que, não dispondo de bolsas, se veem com dificuldades para aumentar suas notas. Dada a demanda de tempo implicada na produtividade exigida para este aumento, a demanda se torna impossível de ser alcançada sem a dedicação exclusiva propiciada pelas bolsas. Deste modo, os PPGs não conseguem aumento nas suas cotas de bolsas, gerando um ciclo vicioso e/ou uma sobrecarga monstruosa nos pesquisadores a fim de alcançar a nota almejada.
No novo modelo entram também o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e a média anual de titulados do PPG. O critério do IDHM, que vem sendo propagandeado como fator de correção do modelo, beneficia tão somente PPGs situados em municípios com IDH muito baixo, o que não é o caso da ampla maioria, além de desconsiderar a importância regional dos PPGs – não raro, as cidades nas periferias das metrópoles são atendidas pelos PPGs destas últimas e têm IDH muito mais baixo que as cidades sede, algo que o critério não capta. Se a promessa do IDHM se revela uma farsa por si só, entretanto, o critério de titulação anual média é ainda mais cruel, pois institui metas inalcançáveis de prazos para a conclusão dos cursos, “com o agravante de as exigências serem díspares de acordo com a área de pesquisa – exige-se maior número de titulados do colégio de Humanidades, e menos de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar, ficando as Ciências da Vida em patamar intermediário, o que se propagandeia como forma de priorizar áreas que seriam consideradas mais importantes, mas que ao fim e ao cabo serve apenas como tentativa de mascarar o fato de que os cortes atingirão todas as áreas”. Por este novo modelo, os PPGs da UFSC, por exemplo, seriam todos prejudicados, algo que se torna inadmissível considerando não se tratar de exclusividade desta instituição. O novo modelo, em outras palavras, implica em cortes tanto locais quanto globais no Sistema Nacional de Pós-Graduação.
Entendemos que, embora a Portaria Nº 34 acelere muito o processo dos cortes, ela apenas opera sobre as demais portarias mencionadas (alterando os tetos e pisos para acréscimos e cortes anuais de bolsas nos PPG), as quais, por si só, já são extremamente prejudiciais às condições da(o) pós-graduanda (o) e da pesquisa nacional, motivo pelo qual nossa campanha precisa ser pela revogação de todas elas. É preciso estarmos atentos para que não seja implantado qualquer novo modelo sem ampla consulta e debate com a sociedade e com as partes mais diretamente envolvidas, como infelizmente já está ocorrendo. Além do mais, como diversas análises vêm demonstrando, haveria cortes de bolsas mesmo sem a implantação da Portaria Nº 34.
“Neste cenário, causa muita estranheza que entidades previamente cientes da construção deste novo modelo (como o FOPROP, que discutiu o modelo com a CAPES antes de sua implantação; bem como a ANPG, que possui cadeira no Conselho Superior da CAPES) não tenham denunciado o modo como se desenrolou este processo e as suas possíveis consequências, bem como que se posicionem tão somente pela revogação desta portaria específica, quando a única posição que evitaria cortes e poderia dar origem às soluções para o modelo vigente de distribuição de bolsas seria justamente a contrariedade organizada a todo o conjunto destas portarias”.
O direito à prorrogação das bolsas
Mais do que nunca, dada a situação dos cortes até aqui apresentada, o andamento das pesquisas na pós-graduação tem se caracterizado num cenário de intensa precarização, o que, por sua vez, expressa as crises política e econômica que se alastram no Brasil e no mundo. Atualmente, estas crises tomam imensurável profusão na universidade brasileira, dado o grau inédito de desmonte desta, combinado com a pandemia de covid-19, que ainda se alastra e segue com alto nível de contágio no Brasil e no mundo. Neste momento, o papel das universidades e da pós-graduação está em ampliar pesquisas nos mais diversos campos do conhecimento com mirada na transformação do atual cenário. Assim, faz-se necessário rompermos com a lógica de migalhas e de aceitação dos cortes atenuados para que o trabalho de pesquisa siga rumo à ampliação dos horizontes em relação ao contexto pandêmico, para que os trabalhadores da pós-graduação tenham condições de vida dignas, tendo em vista os cuidados com o tão necessário isolamento social.
Assim sendo, é preciso refletir sobre as inúmeras implicações que temos à pesquisa durante o período de pandemia: há pesquisas que precisaram ser abruptamente interrompidas, ou sequer foram iniciadas, pois necessitam de trabalho de campo ou acesso aos laboratórios; há pesquisadores e pesquisadoras que não possuem internet em casa para fazer pesquisa bibliográfica e também, devido às necessárias restrições sanitárias, não podem acessar bibliotecas; há pesquisadores e pesquisadoras que estando em casa necessitam destinar seu tempo aos cuidados com familiares – alguns apresentando problemas de saúde, inclusive agravados pela pandemia – além das mães e pais com filhos em casa, de modo que não possuem condições mínimas para o tão mencionado ‘home office’.
Por fim, além da precarização posta nas publicações da CAPES/CNPq, a situação de total instabilidade gerada pela pandemia não só lança os/as trabalhadores/as da pós-graduação ao relento, como também não enfatiza o potencial que a pesquisa tem para ampliar as possibilidades de compreensão da realidade em um momento tão calamitoso como o que vivemos.
Sobre a situação das agências de fomento, aponta-se a publicação da Portaria Nº 55 da CAPES, a qual prevê a possibilidade de prorrogação excepcional de no máximo 90 dias, tanto do prazo de finalização do curso quanto do prazo de recebimento de bolsa. Posteriormente, o CNPq publica o Informe Nº 4 também sobre a prorrogação de bolsas, porém, permitindo a prorrogação em no máximo 60 dias. Em ambos os casos, faz-se necessária a anuência da coordenação do PPG.
Trabalhadores e trabalhadoras da pós-graduação têm enfrentado grandes barreiras com as coordenações dos PPGs pela dificuldade de vencer as burocracias postas para a concessão da prorrogação. Em alguns casos, os PPGs entenderam haver impedimento para as pesquisas e decidiram por solicitar prorrogação de todas as bolsas. Em outros, porém, os pós-graduandos chegam a relatar que as coordenações de seus PPGs decidiram unilateralmente por não aceitar qualquer pedido de prorrogação, sob alegações como a de que isto atrapalharia os próximos processos seletivos, dado que a Portaria CAPES Nº 55 não altera o número de cotas de bolsas e, portanto, acaba por impedir a entrada de novo bolsista enquanto durar a prorrogação do atual bolsista ocupante desta cota (o CNPq não sinalizou se o mesmo ocorre com suas bolsas). Este é de fato um grande problema desta portaria, no entanto, entendemos que não é plausível prejudicar o bolsista atual impedido de continuar suas pesquisas no período de pandemia, de modo que os PPGs deveriam pressionar as agências de fomento pela abertura de novas cotas e, se necessário, adaptarem os calendários de seus processos seletivos para dar conta dessas demandas. Soma-se a isso a pressão à qual alguns PPGs submetem os/as estudantes por conta da competição nas avaliações para a distribuição de investimentos e bolsas, bem como por todos os critérios que aumentam as desigualdades e a competitividade. O cenário aqui exposto só agudiza a realidade de um adoecimento em massa em relação à saúde mental dos pesquisadores e das pesquisadoras de pós-graduação no país.
A APG-UFSC reforça que este período em que passamos por uma crise social não é uma janela de oportunidade para produzir mais. O que os/as pós-graduandos/graduandas necessitam é de condições mínimas e estáveis para perspectivar suas pesquisas. Isto começa pela garantia da prorrogação de prazos de qualificações/defesas e de vigência de suas bolsas. “Algumas modalidades de bolsas, como as do Programa Nacional de Pós-Doutorado, sequer gozam de qualquer possibilidade de prorrogação, apesar da alta demanda dos bolsistas abrangidos, a qual é bastante similar à demanda geral dos pós-graduandos”. Para além da CAPES e do CNPq, alguns órgãos de fomento à pesquisa estaduais – como a FAPERJ, FAPESP, FAPEMA e FAPES, por exemplo – já estenderam o prazo de vigência das bolsas, mostrando que isto é possível e benéfico tanto aos pesquisadores/pesquisadoras quanto aos próprios resultados das pesquisas.
A FAPESC, por outro lado, defende através do Comunicado Nº 005 a não prorrogação das bolsas. Deixa claro que tem a missão de “Promover o ecossistema catarinense de Ciência, Tecnologia e Inovação por meio do fomento e da integração de seus agentes, objetivando o avanço de todas as áreas do conhecimento, o equilíbrio regional, o desenvolvimento econômico sustentável e a melhoria de vida do cidadão catarinense […] [e que] apesar de reconhecermos as dificuldades que alguns pesquisadores estão enfrentando para a plena execução das atividades de pesquisa, entendemos que os pesquisadores estão conseguindo manter suas atividades de estudo, de pesquisa on line e bibliográfica, de discussões e ensaios privados, sendo prejudicados por algumas restrições de levantamentos de dados em campo, ensaios de laboratórios e ações diversas externas”. O Comunicado continua: “Assim, considerando a continuidade dos estudos e ações de pesquisa, a FAPESC manteve e manterá o pagamento das bolsas de Mestrado e Doutorado”, e arremata, “caso algum programa ou pesquisador esteja impedido por completo no desenvolvimento da pesquisa, solicitamos que faça contato com o próprio Programa, orientador e com o setor de bolsas da FAPESC para regularizar a situação, inclusive com a devida suspensão da Bolsa, se for o caso”. Frente ao exposto, a partir de trechos extraídos do próprio comunicado, ficam algumas questões: primeiro, se a entidade está de fato preocupada com o desenvolvimento econômico sustentável e com a melhoria de vida dos catarinenses, atentar contra a qualidade de vida e do trabalho de pesquisa nas universidades do estado catarinense não vai de encontro a estes pontos? Se as dificuldades estão sendo reconhecidas, como afirmar que os/as pesquisadores/as estão conseguindo manter as atividades? Foi realizado algum levantamento, por meio de dados, objetivos e subjetivos, de pesquisadoras e pesquisadores, sobre as reais condições de trabalho?erá que são mesmo “apenas algumas restrições” apontadas que dificultam o trabalho neste momento de pandemia, de crise política e econômica? Se há um impedimento, seja de qual ordem ou razão, a postura da entidade é cortar o sustento destas pessoas, destas famílias?
De acordo com estes questionamentos, nos parece apressado e pouco sensato o posicionamento da FAPESC, prejudicando a vida das e dos pesquisadores, de suas famílias e a qualidade de suas pesquisas, diretamente afetadas devido ao presente e preocupante cenário. Com isso, defendemos que se abra a possibilidade de prorrogação – assim como já indicado por algumas agências de financiamento – de prazos, taxas de bancada e bolsas para todas e todos estudantes que assim desejarem, independente das fontes de financiamento das pesquisas e dos PPGs nos quais as exercem. Defendemos também que os PPGs avaliem com prudência e transparência as justificativas apresentadas pelos bolsistas, devendo ser reservado aos pós-graduandos o direito de recorrerem a outras instâncias caso se sintam prejudicados pela avaliação, inclusive nos casos já avaliados.
Faz-se essencial neste momento que a FAPESC e demais órgãos de fomento à pesquisa ouçam a comunidade de pesquisadores(as), inclusive considerando um aumento temporário das cotas de bolsas e dos períodos de prorrogação – já que não há previsão exata sobre o fim da pandemia – revendo assim seus posicionamentos no sentido de acatar recomendações como as aqui expostas. Esta deve ser uma garantia mínima para a saúde, para a qualidade de vida, para a segurança e continuidade dos trabalhos das pesquisadoras e pesquisadores em todo país e em todas as áreas do conhecimento. Além disso, é também uma garantia de investimento nos distintos ramos de pesquisa, os quais cumprem papel essencial na prevenção e combate a conjunturas de difícil solução – como a atual – mas que são muito prejudicados em sua capacidade quando o investimento não é estável e duradouro. Somente dando a devida atenção a estas e outras reivindicações similares, valorizando assim a vida e o trabalho dos pós-graduandos, será possível preservar as condições de desenvolvimento das pesquisas em andamento.
PELO DIREITO À PRORROGAÇÃO DE TODAS AS BOLSAS!
PELA PRORROGAÇÃO DE TODOS OS PRAZOS ACADÊMICOS!
EM DEFESA DA PESQUISA E DOS PÓS-GRADUANDOS!