Nota: “Até quando a UFSC e o CTC serão coniventes com misoginia e racismo?”

04/12/2020 09:45

A APG-UFSC assina a nota abaixo, que circula entre centros acadêmicos do CTC-UFSC.

O professor Sérgio Colle é conhecido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por posicionamentos de extrema-direita misóginos e racistas, pelos quais responde a um processo administrativo. Recentemente, Colle foi aposentado por idade. Nesta sexta-feira, dia 04/12, uma reunião do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Tecnológico (EMC-CTC-UFSC) votará o pedido de serviço voluntário de professor aposentado de Colle. O objetivo desta carta é opor-se à aprovação deste pedido.

Enquanto pesquisador, Colle possui um currículo invejável, sendo referência internacional na área de energia solar e membro da Academia Nacional de Engenharia. Entretanto, a missão e os valores da UFSC não incluem apenas resultados de pesquisa científica. Pelo contrário: a missão tem como perspectiva a “construção de uma sociedade justa e democrática e na defesa da qualidade da vida”. Dentre os valores, pode-se destacar que a UFSC se diz “Uma Universidade inclusiva, capaz de olhar para os mais diversos grupos sociais e compor um ambiente em que impera o respeito e a interação para com todas as diversidades, nacionalidades, classes, etnias e pessoas com deficiência, comprometendo-se com a democratização do acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade para todos, de forma a superar qualquer desigualdade, preconceito, exclusão ou discriminação, construindo uma sociedade mais justa e harmônica para as gerações vindouras”. Durante seus mais de 40 anos de atuação como professor da UFSC, o professor Colle opôs-se a esses valores. Para ilustrar esta oposição, citaremos trechos de mensagens enviadas pelo professor na lista de discussão do CTC no e-mail institucional da UFSC. Estas mensagens foram divulgadas em 2019 pela Coletiva Centospé, e o próprio Colle retificou a veracidade das mesmas em uma reportagem publicada pelo Jornal da Cidade.

Colle assumiu publicamente seu posicionamento racista, ao chamar cotista de imbecis e macacos: “A lógica da falsidade e inutilidade tem por objetivo cooptar a enormidade de imbecis do coletivo brasileiro (sobretudo os cotistas das universidades), de que o subdesenvolvimento científico deve-se a tal dominação. Ora, a patuleia simiesca, e por conseguinte, deseducada, absorverá este tresloucado discurso, até porque eles tem preguiça de pensar (…)”. O xingamento a cotistas foi repetido em uma nova série de e-mails da mesma lista de e-mails, que continua sendo um canal institucional para professores abertamente exibirem seus preconceitos. Num debate sobre cotas na pós-graduação, Colle chama cotistas de “medíocres” e diz que seu ingresso será responsável pelo fechamento de cursos de pós-graduação. Colle também já exibiu orgulhosamente sua misoginia ao falar de um evento de mulheres na engenharia solar: “Convenhamos que há uma relação entre mulheres e energia solar. Mulheres bem produzidas são usuárias de energia solar e de protetores solares. Espero que em tal evento haja uma exposição de mulheres bonitas, com os clássicos biquínis a absorver energia solar para nosso deleite (…) Espero que nosso laboratório seja visitado pelas participantes, preferivelmente bonitas e/ou simpáticas”. Colle expôs sua visão de que mulheres e cotistas têm participação excessiva na política universitária ao criticar o programa Mulheres na Ciência: “Mas quem promove uma ideia bestialoide dessa é um espertalhão. Ora, ainda estamos numa fase primitiva de caos que é a eleição para reitor e as mulheres constituem uma boa fração do eleitorado, a exemplo dos cotistas (…)”. Colle reiterou sua posição contra as eleições na matéria do jornal da cidade: “Urge uma ação de caráter executivo do Governo Federal, a fim de intervir nas universidades no bojo de novas leis, que venham suprimir de pronto a perniciosa eleição direta para reitor (…)”. Nos e-mail divulgados pela Coletiva Centospé, também há falas homofóbicas, xingamentos a feministas e elogios a ditaduras.

As citações acima não são exemplos da livre circulação de ideias e liberdade de expressão, que também são valores da UFSC. As citações são sim exemplos de discurso de ódio, que têm por objetivo manter pessoas negras, mulheres e LGBTs longe da UFSC e da engenharia. Não há liberdade de expressão quando grupos historicamente silenciados continuam sendo excluídos. Ao posicionar-se tão abertamente contra a inclusão, o professor Colle mostra-se incapaz de cumprir alguns dos deveres exigidos pela Resolução normativa nº 67/2015/CUn, que regulamenta os servidores voluntários: Seção I – Dos deveres: “VI – tratar com urbanidade os servidores, alunos, prestadores de serviço e demais pessoas que tenham acesso à universidade”; “IX – Manter conduta compatível com a moralidade administrativa”.

Conselheiros pela Democracia divulgam nota de repúdio ao racismo institucional

02/12/2020 16:39

Na sessão do Conselho Universitário de terça (01), foi lida uma nota de repúdio às posições racistas de um conjunto de professores do CTC/UFSC, emitidas em uma lista de emails institucional.

A representação da APG junto ao CUn assina e reforça a mensagem dessa nota, escrita junto à bancada “Conselheiros pela Democracia”, que inclui representação do DCE, SINTUFSC e de professores.

Esperamos que, na próxima sessão do CUn, possamos ver um posicionamento coletivo de repúdio em nome da Universidade e medidas concretas de enfrentamento ao racismo institucional!

A nota e as assinaturas podem ser lidas aqui.

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