ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO REJEITAM ENSINO REMOTO
A assembleia dos estudantes de pós-graduação, realizada no dia 20 de outubro de 2022, rejeitou unanimemente qualquer proposta de implementação de ensino remoto.
O ensino remoto, com qualquer denominação que seja utilizada, não contempla os anseios dos(as) estudantes de pós-graduação e não há evidências de que essa medida contribua para produção de ciência e tecnologia de qualidade, e muito menos na construção de uma sociedade justa e democrática, na defesa da qualidade da vida, conforme a missão institucional da UFSC.
Teme-se que a adoção do ensino remoto na pós-graduação seja o primeiro passo para a sua privatização através de futura cobrança de mensalidade, o que já tem sido proposto para os cursos pós-graduação lato sensu. Além do mais, a proposta falha em democratizar o acesso aos cursos, pois, longe do campus, não se acessa a estrutura física que é mantida pela universidade, jogando os custos estruturais de uma pesquisa de pós-graduação para o âmbito privado (serão os estudantes a arcarem com os custos de luz, internet, alimentação e da manutenção do equipamento para realizarem as pesquisas).
Não há experiência disponível demonstrando que a produção de ciência e tecnologia se faz com ensino remoto. Basta refletir sobre quais universidades ocupam a ponta do desenvolvimento acadêmico no Brasil: são as universidades públicas e presenciais.
A Resolução Normativa que dispõe sobre a implementação do ensino remoto já foi aprovada na Câmara de Pós-graduação (CPG), com a rejeição do parecer construído pela nossa entidade, que levantou os problemas da resolução e que serão causados pelo ensino remoto .
Naquele momento, houve uma tentativa por parte de professores da CPG de burlar o procedimento de aprovação de resoluções dessa magnitude, que alteram o sentido da pós-graduação na nossa universidade. Esses professores queriam que a resolução não tramitasse no órgão máximo de deliberação da instituição, o Conselho Universitário (CUn), e que passasse a valer logo após ter sido aprovado na CPG.
Denunciamos a situação e solicitamos à reitoria que o processo seguisse o procedimento usual de discussão das pautas dessa envergadura, pois a comunidade acadêmica precisava ter amplo conhecimento da normativa tramitada. A reitoria na época afirmou que sim: a resolução seria discutida no CUn.
Entretanto, ampliamos nosso espaço de discussão para além de nossa gestão, convidando todas e todos os pós-graduandos a discutirem a questão em uma assembleia estudantil da pós. O encaminhamento da assembleia, construído coletivamente com a pós-graduação, foi no sentido de fazer uma pressão política na reitoria que, vale lembrar, foi eleita com ampla participação dos estudantes: Queremos o engavetamento dessa pauta!
Quem decide o que é discutido ou não no CUn é o reitor eleito pela comunidade universitária, o professor Irineu Manoel de Souza. Cabe à reitoria definir o que é prioritário para que avance na política universitária, por meio da definição das pautas que irão para o CUn, definição esta que está imbricada no teor político do cargo.
Estamos vivendo um gigantesco corte de verbas que já inviabiliza o pagamento de contas correntes da universidade, como a conta de água; que impede que sejam realizadas as mais simples manutenções, como trocas de lâmpadas queimadas; que causa insegurança na comunidade universitária com a redução da equipe de segurança; em que não temos intérpretes de LIBRAS para que estudantes surdos possam participar da vida universitária; em que os prédios estão com infiltração, mofo, e até pegando fogo!
Nessa situação, questionamos a reitoria: seria o ensino remoto na pós uma forma de “gerir a crise”, ao cortar gastos com estudantes que não frequentariam mais o campus universitário? É essa pauta que é prioritária para ser discutida no conselho, frente a tantos problemas urgentes que enfrentamos?
Na última sexta (21/10), em sessão aberta do Conselho Universitário, a APG, através de suas conselheiras, enfatizou a decisão política soberana da Assembleia dos Estudantes da Pós-graduação, rejeitando qualquer modalidade de ensino remoto. Não se trata de decisão técnica, mas de consenso político daqueles que produzem pesquisas para o país – cabendo, portanto, da parte da reitoria, que use dos recursos que possui para que a normativa do ensino remoto não seja instituída na UFSC e respeite a decisão estudantil.
A APG ressalta que o poder democrático que elegeu a atual reitoria também é o poder democrático que explicita e legitimamente rejeita qualquer modalidade de ensino remoto. Seguimos confiantes que a decisão soberana da Assembleia será respeitada.