CARTA DA ASSEMBLEIA ESTUDANTIL DO PPGE AO COLEGIADO PLENO – 19 DE JULHO DE 2022

22/07/2022 11:48

No último dia 12 de julho de 2022, terça-feira, os discentes do Programa de Pós-Graduação em Educação se reuniram em assembleia do corpo discente. A data e horário da assembleia foi decidida por votação no grupo de discentes do programa e convocada no dia 06 de julho de 2022. A convocatória foi encaminhada a todos discentes via e-mail pela secretaria do PPGE no dia 08 de julho. Estiveram presentes discentes das linhas: Educação e Infância (EI), Sociologia e História da Educação (SHE) e Trabalho, Educação e Política (TEP).

O intuito da Assembleia foi avaliar o período de atividades remotas, as quais foram adotadas pelo programa desde 2020 na ocasião da suspensão das atividades presenciais pela UFSC no contexto de pandemia da Covid-19 e continuaram após o retorno presencial, até o presente semestre de 2022.1. Tal debate se fez necessário, uma vez que, cientes da proposta advinda da Câmara de Pós-Graduação da UFSC para Resolução Normativa para regular as atividades remotas, percebemos a urgência de amadurecer o debate entre nossos pares e construir uma posição do corpo discente reunido e organizado no contexto em que nossa universidade direciona seus esforços para a manutenção do Ensino Remoto de forma permanente na Pós-Graduação. Tal processo hoje encontra-se em suspenso, uma vez que a representação discente de nossa entidade, a Associação de Pós-Graduandos (APG/UFSC), pediu vistas do processo que tramita e estava em vias de aprovação na CPG no dia 30 de junho de 2022. (Processo nº 23080.030050/2022-98. Proposta de Resolução Normativa sobre o desenvolvimento de atividades síncronas e assíncronas na pós-graduação stricto sensu).

O Ensino Remoto (aqui não nos propomos a debater a nomenclatura nas diversas polêmicas relacionadas à “EaD” ou às “atividades síncronas ou assíncronas”) foi inicialmente justificado, em todas as instituições de ensino de todos os níveis, como uma possibilidade de continuar os percursos formativos dada a necessidade de isolamento social no contexto pandêmico. Ou seja, um remédio temporário para continuarmos estudando e trabalhando em um momento de incertezas sobre quanto tempo seria necessário tais medidas para a saúde pública coletiva.

Nosso programa, como era esperado por ser da área da Educação, debateu exaustivamente a questão e muitos já alertavam sobre os riscos da manutenção e avanço desenfreado do ER, principalmente nas Universidades, as quais vêm sofrendo, há quase dez anos, uma política sistemática de desmonte via cortes cada vez mais profundos no orçamento, precarização das condições de trabalho dos TAE’s e docentes e afunilando cada vez mais as condições de permanência estudantil e de desenvolvimento científico. Não tardou em ficar palpável na conjuntura esses elementos na proposta Reuni Digital do Ministério da Educação.

Passados dois anos do início das atividades de ER em nosso programa, todos presentes na assembleia avaliaram o período e foi unânime a avaliação negativa de tais atividades no tocante ao processo formativo e ao processo de ensino e aprendizagem. Do nosso ponto de vista, a formação de pesquisadores e docentes foi extremamente prejudicada, não há adaptação possível que alcance a qualidade desses processos quando os realizamos de forma presente, envolvida e comprometida com as aulas, os colegas e professores, ou seja, “de corpo e alma”!

A conjuntura em que nos encontramos está extremamente tumultuada. A pandemia de Covid-19 aprofundou a crise capitalista e vem impactando diretamente e principalmente, a vida das populações mais vulneráveis e de toda a classe trabalhadora. Sentimos isso dia após dia, seja no aumento dos combustíveis e nos custos de vida provenientes da crise inflacionária produzida pelo atual governo, seja nas estratégias de precarização do acesso às políticas sociais, incluindo educação e assistência. Diversos estudantes têm relatado dificuldades objetivas para viver e morar em Florianópolis e sofrem com a especulação imobiliária galopante e, com a falta de bolsas ou dos não reajustes destas, muitos têm precisado manter seus empregos com jornadas semanais de 30h, 40h ou mais horas.

Essa conjuntura desastrosa somada à naturalização do ER nas Universidades a partir da pandemia, têm contribuído para a permanência e aprofundamento desta modalidade de ensino, sendo este apresentado como uma vantagem para driblar as dificuldades com as quais temos nos deparado.

Porém, quando pensamos na produção de nossas dissertações e teses, não podemos encará-las como um desafio individual, a produção delas e a defesa de investimentos na ciência e na educação em nosso país só faz sentido se colada à defesa do sentido universitário, da defesa de autonomia de produção científica de um país e de uma sociedade orientada a superação de seus dilemas sociais. Não há, em nossa avaliação, vantagens na qualidade da apropriação e apreensão dos conteúdos necessários à formação em pesquisa e docência no dito Ensino Remoto, pelo contrário. Há sim, uma tentativa de driblar as dificuldades socioeconômicas, que por mais que sejam legítimas e compreensíveis, não podem nos fazer abrir mão da universidade brasileira e da qualidade histórica que tanto defendemos!

Por isso, decidimos dirigir esta carta ao colegiado! A posição dos discentes do PPGE é contrária ao ER na UFSC. Desta forma, queremos que esta seja a posição do nosso programa. Se nós nos adequarmos passo a passo a todos os ataques que a Universidade sofre, não teremos mais pelo que lutar e seremos engolidos pela lógica que tenta acabar com a qualidade, a resistência e a luta que a Universidade representa à um projeto de sociedade presente e futuro. Que lutemos contra quem nos ataca sem reduzir nosso horizonte! Que possamos analisar a atual conjuntura não para nos adaptarmos à ela, mas sim para transformá-la!