RU no CCA é garantia de transtornos para quem depende do restaurante
Entra ano, sai ano e o problema insiste em se repetir: ao final de dezembro, o Restaurante Universitário da UFSC, localizado no campus Trindade, é fechado pela Administração Central, divulga-se um informe sobre o deslocamento das refeições para o RU do Centro de Ciências Agrárias (CCA), localizado no Itacorubi, e o assunto se dá por resolvido. Por repetidos anos, a liberação de transporte para traslado das e dos estudantes da Trindade para o Itacorubi só é fornecida quando as entidades estudantis entram em contato com a Reitoria cobrando pelas óbvias condições de acesso. Neste ano, mesmo após terem sido requeridas maiores explicações, a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis (PRAE) se limitou a informar via ofício que as decisões cabíveis estavam sendo tomadas e relatou problemas de ordem orçamentária. Entretanto, decorridas já algumas semanas, o transporte ainda não foi fornecido, tornando o RU/CCA inacessível para muitos estudantes e acarretando em enormes transtornos para quem precisa estar na Universidade durante o período de recesso acadêmico, especialmente pós-graduandas e pós-graduandos que necessitam manter seus experimentos em andamento e/ou em constante monitoramento.
Entendemos a situação calamitosa da Universidade, os ataques e os cortes orçamentários que vem sofrendo; assim como entendemos que os equipamentos do RU Trindade precisam ficar desativados temporariamente por necessidade de manutenção, e que o período de recesso talvez seja o momento menos conturbado do ano para a execução dessa função. No entanto, a Universidade falha em explicar com detalhes as razões para os longos períodos de suspensão do RU Trindade; falha em explicar por quais motivos essa manutenção não poderia acontecer parcialmente, em dois momentos do ano, exigindo um fechamento menos custoso à comunidade; falha em ser transparente e em fornecer uma informação completa e honesta a quem trabalha, estuda e depende do ambiente universitário para desenvolver aquilo que é do interesse da própria Universidade e de todas(os) nós: pesquisa de ponta e excelente produção científica. E falha nesse sentido porque só ficamos sabendo dos problemas orçamentários e de licitação porque entramos em contato solicitando maiores informações. Se não fossem cobrados por sua própria responsabilidade, a PRAE nada teria dito. Então perguntamos: cadê a comunicação da Administração Central com a comunidade acadêmica?
Em ofício de resposta, a PRAE informa que manteve o RU/CCA aberto durante o recesso principalmente para atender aos estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. Mas uma resposta como essa não convence aqueles que, vulneráveis economicamente, sabem que se todas as condições de acesso não são garantidas, o serviço não consegue chegar às/aos estudantes que necessitam dele. “Realizar suas refeições sem nenhum prejuízo do benefício”, como traz o ofício que disponibilizamos abaixo, é exatamente o que não está acontecendo. Os/as estudantes estão lidando individualmente com uma necessidade que, posta como garantia pela legislação da Universidade, não sendo fornecida conjuntamente com todos os meios necessários para acesso, acusa a irresponsabilidade da UFSC com sua comunidade. O fechamento do RU Trindade e a recusa em fornecer transporte demonstra a total falta de respeito da Reitoria por aquilo que é um dos fatores mais importantes do indivíduo em processo de formação — uma alimentação digna. Sem uma alimentação apropriada é impossível dar conta das obrigações da graduação e da pós-graduação. Isso porque uma alimentação apropriada exige uma situação financeira que não é a mesma de grande parte dos/as estudantes da UFSC — a maioria vive sem bolsas de permanência, está comprometida com valores altíssimos em aluguéis para morar em uma das cidades com maior custo de vida do Brasil, sustenta-se sem ajuda familiar (não raro, nossas famílias sobrevivem com o valor de um salário mínimo) e, a muito custo, tenta concluir o ensino superior em um país desigual como este onde vivemos. São estas/es as/os estudantes que escapam ao olhar da Administração quando a Universidade não garante todas as condições de acesso ao Restaurante Universitário.
Ressaltamos o fato importante de que as bolsas de pós-graduação estão congeladas há 7 anos, valendo hoje cerca de 40% menos do que valiam no último reajuste devido a inflação do período. Sem direitos trabalhistas, sem seguridade social, sem vale-alimentação, sem vale-transporte, com cargas de trabalho frequentemente excessivas e pressões de todo tipo, a Universidade decide esquivar-se do fato de que seus jovens trabalhadores e trabalhadoras, os pesquisadores e as pesquisadores que fazem andar a pesquisa acadêmica no Brasil, encontram dificuldades inúmeras para manterem-se saudáveis e dispostos em suas carreiras acadêmicas, motivados a fazer progredir a pesquisa científica brasileira.
Respeitem nossa alimentação!
Valorizem nossa saúde!