Sonhadora, administração central admira o horizonte pela janela, declarando sem muito debate quais serão suas prioridades lá fora. Aqui dentro, os técnicos abandonam o CFM pelas péssimas condições de trabalho e estudantes enfrentam dificuldades para se alimentar, além de falta de espaço na BU.
É verão, mas os/as pós-graduandos/as seguem encontrando-se na APG para discutir o que está ocorrendo na universidade – motivos não faltam!
Participamos (via representação) no dia 20 de dezembro da primeira reunião de planejamento do Plano de Desenvolvimento Institucional, o PDI, documento que determina onde a Universidade deverá concentrar seus esforços de 2020 a 2024. Ainda não há muito de concreto, mas é preciso informar a categoria estudantil para que estejamos desde já atentos/as a essas discussões, que muito nos impactam.
Houve, por exemplo, um quase exclusivo entusiasmo com os esforços para a internacionalização da universidade. Apesar da indubitável importância do tema, lutaremos para que o plano de desenvolvimento institucional enfrente também assuntos urgentes que ocorrem aqui na nossa porta, da moradia estudantil e demais condições de permanência e saúde até o desenvolvimento dos campi para além do campus Trindade.
Vejam, por exemplo, o que passamos com a situação do Restaurante Universitário: em um dia quente de janeiro (veja nossa manifestação aqui) 40 estudantes ficaram sem poder almoçar por falta de transporte para o RU do CCA. Graças à cobrança estudantil, a Reitoria disponibilizou mais um ônibus e cogita reabrir o RU Trindade mais cedo – uma medida importante considerando que o aumento da frota vai ser menos eficaz quanto mais as pessoas voltam a utilizar os espaços da Universidade. No final de janeiro a Biblioteca Universitária, que após as 13:30 disponibiliza uma única e pequena sala de estudos individuais para usufruto da comunidade acadêmica, também apresentou filas, fazendo com que muitos/as não pudessem estudar como pretendiam.
Outro acontecimento marcante na universidade foi protagonizado pelos servidores técnicos do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), que resolveram abandonar o prédio. Há muito que os usuários desse centro, incluindo pós-graduandos/as, vêm denunciando as péssimas condições de segurança de trabalho, mas nada foi feito: com todo tipo de defeito, incluindo água passando abundantemente por dutos de eletricidade quando chove (foto abaixo), a próxima tragédia brasileira pode ser aqui mesmo na UFSC – um incêndio diurno em período letivo, por exemplo, num espaço que já é apelidado pela comunidade de “labirinto” – e assim como em Brumadinho, não será um “acidente”, e sim fruto de um descaso sistemático.
Água da chuva passando por dutos de eletricidade no CFM: a um passo de um incêndio.
Mas, se a bola da vez é a internacionalização, que tal discuti-la a fundo? Nesse ano começa a valer o edital CAPES/PrInt (nº 41/2017), no qual a UFSC foi uma das universidades contempladas, uma remodelagem dos recursos da entidade com vistas a – segundo a CAPES – dar mais autonomia para as universidades escolherem como aplicar os recursos para a internacionalização.
Na verdade isso faz com que os programas tenham que escolher apenas uma linha de pesquisa para internacionalizar a médio prazo, a partir de temas que a administração central da universidade escolhe, o que retira um bom grau de autonomia e flexibilidade que os programas tinham, por exemplo, com o PDSE. Como dito em reunião sobre o assunto nesta segunda-feira (4) por uma professora, esta é a maneira como a CAPES transfere uma briga por recursos escassos para os docentes. Mais recursos serão recebidos, mas terão que ser aplicados de maneira a negar a internacionalização a muitos/as docentes e discentes, e ainda serão aplicados desigualmente devido a um “ranqueamento” entre os temas que a universidade escolheu. No caso da UFSC, estes temas são “nanociência e nanotecnologia”, “transformação digital: indústria e serviços 4.0”, “saúde humana”, “linguagens, interculturalidade e identidades” e “sustentabilidade ambiental” (veja a proposta aprovada da UFSC aqui).
Embora essa lista pareça ampla o bastante, cada tema é subdividido em objetivos, projetos a serem geridos por professores e programas específicos. Fato é que houve pouquíssima divulgação e debate sobre a adesão da UFSC ao programa CAPES/PrInt, tanto entre discentes quanto docentes. A intenção da CAPES, contudo, é expandir o PrInt nos próximos anos, incentivando os programas a se adequarem ao edital para serem incluídos nas próximas edições.
Nós, da APG-UFSC, planejamos tirar esse debate das sombras da burocracia e fazer com que a comunidade acadêmica tenha real voz nas considerações sobre o que é ou não prioridade nos estudos da pós-graduação. É preciso discutir não só esses temas como esse próprio modelo de investimentos em internacionalização!