Novembro, mês da consciência negra!
O dia 20 de Novembro é celebrado como dia da consciência negra por ser a data atribuída à morte de Zumbi dos Palmares, importante representante da resistência negra do Brasil Colonial até hoje. Em 2003 a Lei nº 10.639/03 incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”. O que nos lembra que esse dia não é realmente uma celebração, e sim um dia de memória, de luta e resistência negra contra o racismo estrutural e institucional presente em nosso país.
O mês de novembro é marcado por diversas atividades com o intuito de resgatar toda a luta e resistência histórica de pessoas africanas que foram escravizadas em nosso país, para nos lembrar que a história de seus povos não começa com a violência da escravidão. É um momento para discutir a justiça racial como promotora de igualdade frente à exclusão que sofrem negros e negras.
Vivemos em um Brasil cuja maioria da população, 51% de acordo com o IBGE em 2010, cerca de 100 milhões de pessoas, é negra. Em termos absolutos é a maior população negra considerando todos os países das Américas, e a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da Nigéria. Esse contingente populacional não surge por acaso, mas atesta a realidade triste e vergonhosa do tráfico humano que se deu a partir do século XVI, tendo o Brasil sido destino de 40% das vítimas.
Um Brasil em que 64% da população carcerária é negra; em que 71,5% das pessoas assassinadas em 2016 eram pretas ou pardas, taxa duas vezes e meia maior à de pessoas não negras; em que menos de 20% de professoras e professores universitários são negros. Alguns dos dados que escancaram um país extremamente desigual.
Um Brasil cuja abolição formal da escravidão completa 130 anos e que ainda assim apresenta a realidade que acabamos de indicar. Resultado de mais de um século de atraso; do abandono, pelo Estado e pela sociedade, de pessoas negras libertas ao que a sorte poderia lhes reservar, que não remonta simplesmente ao período posterior à abolição, mas que deve ser lido em conjunto com os mais de trezentos anos de escravidão com os quais convivemos. Herança de um racismo implantado na sociedade, em seu cotidiano, em suas estruturas, perversamente disfarçado por máscaras ideológicas, tais como a democracia racial e a meritocracia.
Quanta luta pela frente!
Diante de uma realidade de políticas públicas reparatórias, nos últimos vinte anos, que sequer tangenciaram as questões estruturais que originam esses problemas e os ataques de amplos setores retrógrados da sociedade, chega, mais uma vez e a cada dia, o momento de defender o pouco que há e de lutar por justiça.
No âmbito da pós-graduação, é preciso reconhecer (e combater) as formas como o racismo estrutural da sociedade faz com que a realidade dos problemas de saúde mental e do assédio moral nas relações acadêmicas incida com mais força sobre as pós-graduandas negras e os pós-graduandos negros. Além disso, é urgente expandir e fortalecer os programas de ações afirmativas raciais, não só para acesso como também para permanência!
No plano político, isso significa resistir e se opor a um governo conservador que fortalece a estrutura racista e de desigualdade social brasileira. A união dos movimentos sociais no combate às desigualdades vencerá a promessa de violência institucionalizada das elites eleitas: é preciso mais do que nunca fortalecer essa união e essas lutas!
A APG, na gestão “Pra não lutar só”, citando Angela Davis, defende que “em um país racista, não basta não ser racista, devemos ser antirracistas”, e por isso levantamos nossas vozes nesse mês que marca um momento de reflexão, de memória e de luta por justiça.
26 de novembro de 2018,
APG – UFSC Gestão “Pra não lutar só”