Com Governador Moisés, FAPESC continua na direção errada
O novo governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, recentemente empossou Fabio Holthausen, professor da Unisul, como presidente da FAPESC. Segue trecho de um de seus artigos acadêmicos:
“Uma das formas [das universidades contribuírem para o desenvolvimento social e econômico] é assumindo uma postura mais inovadora e empreendedora, seja contribuindo para o desenvolvimento de uma cultura mais inovadora e empreendedora nas regiões onde atuam, seja transferindo o conhecimento existente entre “seus muros” para o setor produtivo, para o governo e para a sociedade, seja adotando estratégias que as tornem, elas próprias, organizações inovadoras e empreendedoras.”
Isso não traz nenhuma novidade em relação ao discurso do presidente anterior, que criticamos no ano passado por defender um modelo no qual o dinheiro da FAPESC deveria servir para financiar novos empresários – com o dobro de dinheiro se eles falirem uma vez, com o triplo de dinheiro se eles falirem novamente. A preocupação da Audiência Pública era o corte de verbas para as Universidades e para as bolsas de pesquisa que afetam todas e todos os pesquisadores, mas em nenhum momento foram mencionadas as ciências humanas, sociais, artísticas, nem mesmo as ciências naturais que fazem pesquisa de base – mas exclusivamente a ciência capaz de gerar empreendimentos privados.
Só o que se quer é continuar repassando diretamente recursos públicos para agentes privados, que vão aplicá-los (às vezes em parcerias com agentes privados internacionais) em tecnologias para ampliar suas margens de lucro. O horizonte de financiamento sucessivo de projetos fracassados revela com incrível honestidade a verdadeira opinião do empresariado – e seus defensores nas instituições públicas – quanto ao suposto ideal de “meritocracia”. Para fins de comparação, um dos últimos editais de bolsas de mestrado e doutorado da FAPESC indica que “em caso de insuficiência de desempenho do bolsista” (embora sem qualquer critério que defina tal insuficiência), a bolsa poderá ser cancelada imediatamente; no entanto, se fôssemos aplicar o mesmo critério aplicado aos “empreendedores”, o pós-graduando deveria, pelo contrário, receber o dobro do valor da bolsa – quiçá o triplo!
Não há horizonte possível de financiamento público da ciência em Santa Catarina enquanto a direção da FAPESC estiver defendendo uma política de redistribuição regressiva de renda. Para impulsionar e aprimorar a ciência catarinense, é necessário debater profundamente o que se entende por ciência, qual seu papel em uma sociedade profundamente desigual, e melhorar qualitativamente a distribuição de recursos segundo essa concepção revigorada daquilo que a ciência pode fazer pelo povo catarinense. Colocar Holthausen no comando indica que continuaremos longe de satisfazer essa necessidade.